Como pode a psicoterapia ajudar os jovens em dificuldade?A presença na consulta psicológica de jovens na terceira década de vida tem vindo a aumentar. Uma solicitação que raramente deriva da existência de qualquer organização psicopatológica nestas pessoas. O motivo é frequentemente o incómodo com a dificuldade em selecionar e/ou concretizar algumas decisões importantes para a sua vida, presente e/ou futura. Uma incomodidade assente na incerteza sobre as escolhas e caminhos a percorrer, por vezes mais centrada nas opções vocacionais/ocupacionais enquanto outras vezes mais relativa à esfera interpessoal. Embora a participação destes jovens na consulta psicológica tenha aumentado, a minha experiência de vinte anos de docência universitária mostrou-me que existem muitos mais jovens que poderiam beneficiar com este tipo de apoio. Então porque não o solicitam?Na maioria dos casos porque, ao contrário daqueles que buscam esse apoio, não têm consciência dessa necessidade ou, em alguns outros casos, por receio associado a uma representação negativa do acompanhamento psicólogo. Embora este rótulo social negativo tenha diminuído substancialmente, ainda existe algum estigma em volta da necessidade de ajuda psicológica, mesmo nos jovens. De um modo geral os jovens que procuram a consulta revelam algumas dificuldades relacionadas com a construção de si, da sua identidade. O seu nível de auto-exame é tendencialmente baixo pela dificuldade em desenvolverem uma consciência de si, dos outros e do mundo, mais clara e profunda. Esta consciência constitui um guião que facilita a leitura das experiências diárias e as tomadas de decisão. Deste modo, a ausência de um conhecimento de si mais completo faz com que os jovens desenvolvam expetativas menos ajustadas aos recursos psíquicos que possuem, conduzindo-os para experiências de fracasso. As relações interpessoais, amorosas ou de amizade, são abordadas através de um estilo maioritariamente defensivo que expressa a dificuldade em lidar com o que é mais subjetivo e complexo. Iniciar e manter relações que incluem a partilha da própria identidade tornou-se um desafio significativo que faz muitos jovens manterem as suas interações na periferia da intimidade interpessoal. Um estilo económico que obedece ao lema, uma menor implicação diminui o risco, e que carateriza uma opção que limita o confronto com o desafio da compreensão empática. Esta atitude de contenção, na verdade uma estratégia de “evitamento”, é o resultado das dificuldades evidenciadas pelos jovens em competências tão decisivas para a vida interpessoal como a empatia e a assertividade. Um evitamento que mais não faz que reforçar essas dificuldades e transformando-as num obstáculo da cumplicidade interpessoal. Estes jovens apresentam um stresse elevado que, embora parcialmente derivado de algumas dificuldades estruturais, está bastante ligado a aspetos externos, a acontecimentos da sua vida. A vida está a colocar-lhes desafios para os quais não conseguem encontrar respostas eficazes sem a vivência de algum sofrimento ou sentimento de incapacidade. Esta vivência ansiosa prejudica a capacidade de elaborarem e regularem as suas decisões e condutas, tornando-os cativos de uma certa impulsividade ideativa e emocional. Isso explica alguma preferência por um mundo bastante previsível, relativamente rotineiro e a tendência para restringirem as experiências quotidianas, principalmente as de maior complexidade e/ou dificuldade. Num mundo tão marcado pela incerteza e instabilidade, deixar acentuar estas dificuldades constitui um risco significativo ao bem-estar e desenvolvimento equilibrado das pessoas. Em síntese, estes jovens sentem-se em confronto com uma tarefa complexa na medida em que as suas dificuldades mais importantes coincidem com as dimensões de maior hétero e auto-exigência:
Dito de outro modo, o tempo definido pelo calendário social como a adultez chega frequentemente sem que alguns jovens contemporâneos tenham assegurado as condições suficientes para resolver as tarefas críticas deste período desenvolvimental. Uma “imaturidade” que, como afirmei anteriormente, não é percebida por muitos destes jovens mantendo-se numa trajetória de vida com inclusão diminuta do futuro e fundamentalmente orientada para a gratificação imediata. Este sentido de vida, subjugado à irresistível sedução das dimensões prazerosas da vida, prejudica a formação do córtex e o desenvolvimento cerebral executivo. Assim é porque este desenvolvimento depende significativamente da capacidade de lidar com a frustração e de adiar a gratificação e, também, da inclusão das dimensões de planeamento, organização e auto-monitorização da atividade mental. A menor utilização destas operações mentais por uma atividade ligada ao primado do prazer imediato constitui um atentado ao desenvolvimento cerebral e, consequentemente, da personalidade. Alguns destes jovens vão tomando consciência da necessidade de transitarem para uma modalidade mais proativa que reativa, mais póstera que imediatista. Daí resulta preocupação e, consequentemente, ansiedade e/ou stresse.Porém, outros existem que permanecem ignorantes da necessidade de mudarem o ship mais adolescente, insistindo frequentemente numa modalidade existencial que não favorece a capacitação que a vida adulta exige. Este retrato das dificuldades desenvolvimentais comuns a muitos jovens atuais levou o psicólogo Jeffrey Jensen Arnett (2000, 2006, 2007) a concetualizar um novo período desenvolvimental no ciclo de vida, a adultez emergente. Outrora uma curta fase de transição, o ingresso na adultez, tornou-se um período desenvolvimental específico, distinto do período precedente, a adolescência, e do período consequente, a adultez. Este período desenvolvimental oferere tarefas críticas específicas e distintas de todos os outros períodos. Ao invés de algumas décadas atrás, muitos jovens na terceira década de vida ingressam neste período sem uma orientação clara do que querem ser e do que vão fazer e pouco comprometidos com o seu futuro. Apesar de muito centrados em si próprios, não aproveitam esta fase de uma forma suficientemente capacitadora. Porquê? Porque a sua atividade está demasiado subjugada aos apetites do cérebro límbico e menos regulada pelas componentes executivas do córtex cerebral. Ao longo do seu desenvolvimento não foram capazes de construir uma identidade segura, assente num desenvolvimento cerebral executivo. É neste contexto que a psicoterapia pode cumprir uma função decisiva, ao facilitar a transformação cerebral necessária a um funcionamento mais deliberado, persistente e planificado, ou seja, mais suportado nas funções executivas. Esta é a condição suficiente para que, sem deixarem de usufruir das dimensões mais prazerosas da vida, possam seguir uma trajetória adaptativa e exitosa. O psicoterapeuta, pode então constituir-se como um cuidador que, tal como os pais, os pares e os parceiros, pode fornecer elementos fundamentais para o desenvolvimento equilibrado e o bem-estar de muitos jovens. Para tal, beneficia do conhecimento dos processos de desenvolvimento neuropsicológico e psicosocial, particularmente sobre a adultez emergente, para utilizar as técnicas da psicoterapia ao serviço da modificação da mente e do comportamento. Descrever a adultez emergente e os fatores que causam as dificuldades nos jovens constitui o objetivo de um segundo artigo sobre este tema. Nele, iremos ainda analisar as funções e os benefícios que a psicoterapia oferece a estes indivíduos.
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