Toxicodependência: Quando o medo nos acompanha! (Parte II de II)

O António tem 38 anos. 

Relata que há mais de 16 anos que não consegue dormir uma noite inteira. 

É casado, tem três filhos entre os 8 e os 12 anos. 

Trabalha na área comercial de uma empresa do ramo automóvel. 

A mulher é jornalista. 

Vivem em casa própria, têm dois carros, fazem férias duas vezes por ano. 

Pertence a uma classe média que classifica como que suspensa por arames, num equilíbrio instável ao qual já se foi habituando.
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O António está casado há cerca de 13 anos.

Tem sido uma vida regular, apesar dos altos e baixos que, segundo as suas palavras, acabam até por estimular a relação. 

Não sente qualquer interesse em procurar outras mulheres. 

Explorando com maior detalhe a sua ligação amorosa, revela que não consegue descolar-se de uma sensação que o persegue incansavelmente.

Tem momentos em que pensa que aquilo que sente é ciúme, mas acaba por concluir que, na realidade, o que sente é uma enorme dependência daquela mulher, como se o chão lhe escapasse por baixo dos pés quando se imagina sem ela.
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O pai e a mãe do António, com 70 e 68 anos, respetivamente, dão um grande apoio ao filho e aos netos, seja para trazê-los da escola, para levá-los às atividades desportivas, para lhes dar de jantar durante a semana, ou para estudar com eles para os testes. 

O António relata que os pais sempre se mostraram disponíveis para ajudá-lo e aos irmãos, mesmo quando eram mais jovens.

Mostra uma grande admiração pelos pais mas, ao mesmo tempo, afirma querer dar aos seus filhos uma educação diferente da sua. 

Gostava de ter sentido uma maior ligação emocional, que as coisas lhe tivessem sido explicadas de outra forma, com menos imposições, com mais tolerância. 

O rosto do António revela alguma animosidade quando se refere a este assunto. ​
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Percorreu um longo caminho para chegar até ao consultório do psicólogo. 

Foi-lhe difícil admitir, mesmo para si próprio, que estava a precisar de apoio para perceber como sair do looping mental em que se sentia envolvido. 

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Avançada que vai a terapia, brinca com a situação:
​“podia ter feito isto mais cedo, tinha-me poupado muitos
​dos cabelos brancos que já tenho”.

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Visivelmente emocionado, revela ao longo das sessões que sempre se sentiu diferente dos outros, como se fosse invisível, inferior, especialmente em relação aos irmãos e a alguns amigos. 

O António foi um aluno com média de 5 sobre 5 no secundário e de 18 sobre 20 nos anos do liceu. 

Foi um jogador exímio de basquetebol durante a sua adolescência. 

Teve mais namoradas do que os dedos das mãos podem contar: “eu era muito popular, não há dúvida”. 

Tinha um grupo estável de amigos, com o qual saía duas a três vezes por semana. 

E mesmo assim, apesar de todo este percurso, nunca se sentiu à altura das expetativas dos pais, dos irmãos, dos professores, dos amigos. 

Ainda hoje olha hoje para os irmãos com um misto de orgulho e de temor. 

Continua a sentir-se vulnerável na presença deles, sem conseguir um mínimo de proximidade. 

Nas suas palavras:
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 "Fico completamente paralisado.
Será que algum dia vou ter uma relação normal com eles?"

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O António foi toxicodependente durante oito anos.
A pouco-e-pouco relata:

​ “Comecei a consumir no final do 12º ano, mesmo antes de entrar na faculdade. 

Começou como uma brincadeira entre amigos. 

O problema agravou-se quando aquilo, aquele estado em que a heroína me deixava, afinal era… nem sei como explicar… era leve, era fácil, era bom, estava ali ao lado… a partir daí foi uma espiral negativa: baixei as notas, deixei o desporto, isolei-me… maltratei os outros…”. ​
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A razão que leva o António a não dormir uma noite inteira desde há mais de 16 anos não tem tanto a ver com o seu trabalho, nem com os filhos ou os pais, nem com a sua relação amorosa. 
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“Quando acordo, todos os dias desta vida, o meu primeiro pensamento é o de ver se consigo chegar à noite e deitar-me sem ter tido vontade de consumir nada… às vezes nem é uma questão de vontade, é só aquele medo parvo de que é tão fácil eu não resistir, é tão fácil chegar a qualquer lado, comprar, e já está… consumir…”.
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A palavra vontade foi aqui escrita propositadamente em itálico. 

Quando falamos em consumos de estupefacientes, não nos podemos esquecer da componente aditiva que algumas destas substâncias têm e que transformam e debilitam o organismo, deixando de ser uma vontade (no início a pessoa experimenta umas “passas”) para passar a ser uma necessidade, uma obrigação (quando a privação da substância torna insuportável o não-consumo), tornando-se numa patologia da qual a pessoa padece. 
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Ao longo dos oito anos de dependência da heroína os sintomas de abstinência (período que medeia dois consumos) do António iam sendo cada vez mais evidentes e mais rápidos. 

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A dependência orgânica e psicológica
​ era avassaladora. 

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“Transtornava-me, não tenho outra descrição. 

Quando consumia era o prazer total e absoluto. 

Quando não consumia, só queria mais e mais”, refere o António. 

Continua o relato:
​“Foram muitas dezenas de contos, na altura eram escudos, contos; admito… roubei dinheiro aos meus pais, aos meus avós, aos meus irmãos”. Recuperou do processo: “bati no fundo, tenho vergonha do que fiz, …, dali do fundo só podia ou morrer ou vir para cima, escolhi vir para cima”. 

“Não sei se alguma vez se recupera totalmente.

 Se se fica completamente curado. 

Hoje estou bem… sim, estou bem… continuo a dormir pouco mas estou bem!”

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Toda uma família tocada pelo flagelo da droga. ​Um flagelo que não distingue idade ou classe social. 

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Relações familiares que se alteram inexoravelmente, definitivamente. 

Hoje, volvidos anos sobre o “pico” do consumo, subsiste sempre um receio, escondido, não falado. 

“Fazemos quase como se aquilo nunca tivesse existido. Nem sei se é bom, se é mau”. ​

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O acompanhamento psicológico e a psicoterapia são apoio fundamental para a recuperação de um processo como este que foi descrito.

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São um apoio fundamental para a recuperação de um processo como este que foi descrito, tanto para o consumidor como para os familiares e cuidadores próximos. 

Esta é apenas uma das centenas de histórias de que acabamos por ouvir falar ou que, infelizmente, acabamos por viver no seio das nossas próprias famílias. 

Falamos de toxicodependência, mas também falamos de recuperação de amor-próprio, autoestima, bem-estar e confiança. ​
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Encontro-me totalmente disponível para o ajudar, a si, “António”, mãe, pai, irmão, filho, filha, marido, mulher, colega, amigo. 

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Dr. Gonçalo Duque Plaza
Psicólogo Clínico | Life Coach | Hipnoterapeuta
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Dr. Gonçalo Duque Plaza