Segundo a Teoria de Processamento Dual, do psicólogo e Nobel da economia, Daniel Kahneman (2011), no seu livro Pensar, depressa e devagar, mostra-nos que a nossa forma de tomar decisões é influenciada por dois sistemas - sistema 1 e sistema 2. O primeiro sistema é mais intuitivo, está mais ligado às emoções, exige menos esforço e é mais rápido. Enquanto que o segundo é caracterizado por ser mais ligado à razão, exige mais esforço mental, é mais lento e submetido a um maior escrutínio. Ambos os sistemas cumprem funções importantes e adaptativas, contudo é fundamental termos conhecimento destes processos pois por vezes dão origem a erros e enviesamentos na tomada de decisão. Ora vejamos, suponha que estamos a jogar com uma moeda ao cara-coroa, e até agora saiu 6x seguidas, cara. A probabilidade da sétima vez sair cara é maior, igual ou menor do que a de sair coroa? Se a sua resposta foi - maior ou menor, é uma resposta do sistema 1, intuitiva, porém errada. A probabilidade é sempre a mesma, é de 50%, não importa o número de vezes que saia cara ou coroa. Toda a vez que lançamos, a probabilidade é igual para ambas. O nosso cérebro adora atalhos, isso faz com que responda rápido e poupe energia e poupar energia e responder rápido sempre foi essencial para a nossa sobrevivência. Num mundo incerto, cheio de predadores selvagens e catástrofes naturais, sobreviver dependia muito de confiar no seu instinto. Contudo confiar no instinto, e decidir rápido (sistema 1) nem sempre é a melhor solução até porque estes atalhos são especialmente perigosos quando estamos a falar de informação partilhada nas redes sociais e nos media. Teorias como a falsa memória de Binet, a teoria da tendência de confirmação de Peter Wason, a lei de fechamento da Gestalt, o conformismo social de Ash, o viés de autoridade de Milgram entre outros, mostram-nos como é fácil enganar o nosso cérebro. Como é fácil confirmar informação de acordo com aquilo que percebemos, e preferir acreditar nessa informação em vez de fatos. Como é fácil aceitar sem confirmar, algo complexo quando transformado numa narrativa familiar. Neste sentido, conseguimos perceber como é fácil acreditarmos nas fake news e em teorias da conspiração. Com esta nova crise da pandemia de COVID-19, surgiram de imediato uma série de falsas informações, e de teorias da conspiração que se espalharam tão rápido quanto o vírus. - “O vírus é uma invenção dos governos para justificar o controle ditatorial”; - “É uma invenção da indústria farmacêutica para vender vacinas”; - “É uma forma de controlar a economia mundial. “ - “beber água de 15 em 15 minutos previne a contaminação” Mas o que leva alguém a criar e acreditar nessas falsas informações e teorias? Para além de nestes casos, estarmos a atura atuar sobretudo mais com o sistema 1 do que com o sistema 2. A literatura existente diz-nos também que estas crença em teorias da conspiração parecem estar relacionadas com motivos que podem ser caracterizados como epistémicos (entender o ambiente e o mundo em que vivemos, reduzir a complexidade, a incerteza e encontrar um significado perante o desconhecido), existencial (sentir-se seguro e em controlo do que está a acontecer) e social (manter uma imagem positiva do eu e do grupo social, e manter o sentimento de pertença ao grupo) (Douglas, Sutton & Cichocka, 2017). As redes sociais ampliaram a capacidade de disseminar estas ideias e de semelhantes se unirem para partilhar e expandir as suas teorias da conspiração dando força às mesmas (efeito manada).
“O conhecimento é poder somente se soubermos, com quais fatos não nos incomodar” Robert Staughton Kahneman, D (2011). Rápido e devagar: duas formas de pensar. Lisboa: Circulo de Leitores Douglas, K., Sutton, R. & Cichocka, A. (2017). The Psychology of Conspiracy Theories. Current Directions in Psychological Science, 26, 538-542. doi: https://doi.org/10.1177/0963721417718261
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