A Dra. Anabela Ferreira da Clínica Learn2Be tem uma mensagem de conforto, ânimo, de força para aqueles que já se encontram infectados e os seus familiares! Já todos ouvimos mensagens de ânimo e de força para aqueles muitos que se encontram confinados em suas casas. Quer seja através de mensagens das autoridades sanitárias, quer através de vídeos de personalidades mais ou menos públicas a pedirem para permanecerem nos seus lares ou a darem sugestões de como passar o muito tempo que vamos tendo entre mãos. No entanto, as múltiplas estatísticas que vão proliferando nos diversos canais apontam todas no mesmo sentido: são direcionadas para as pessoas saudáveis (ou assintomáticas), aquelas que ainda não foram contempladas com um diagnóstico positivo. E são precisamente aqueles que já estão infetados e as suas famílias que não podem ser negligenciados, sob o risco de amanhã podermos nós precisar de uma palavra amiga e de conforto e não termos a quem recorrer. Assim, temos, enquanto sociedade com preocupações solidárias, de amparar esses milhares de concidadãos nossos com o intuito único de lhes trazer uma mensagem de conforto, de segurança e de paz. Sabemos que alguns tiveram comportamentos negligentes, mas para além do fardo da infeção ainda terem de gerir sentimentos de culpa, é pedir muito de uma pessoa: vocês não são culpados de estarem infetados; agora, são responsáveis por parar a corrente de transmissão. Antes de mais importa compreender o que é “a culpa”. A culpa é uma emoção que surge quando um individuo avalia negativamente a sua atitude, ou seja, aparece como reação natural face a um comportamento inadequado de uma pessoa para outrem, mais, é o efeito prejudicial que as suas ações tiveram sobre outras pessoas, o que provoca, por seu turno, sofrimento intrapsíquico. Nós podemos nos sentir culpados por algo que fizemos, algo que achamos que fizemos ou algum objetivo que não conseguimos atingir. De acordo com a definição apresentada pelo Dicionário de Psicologia da “American Psychological Association” (APA), a culpa é “uma emoção autoconsciente caracterizada por uma dolorosa avaliação de ter feito (ou pensado) algo que está errado e, muitas vezes, pela prontidão para tomar medidas destinadas a desfazer ou mitigar esse erro.” Algumas pessoas podem tentar afastar a culpa racionalizando ou minimizando o efeito prejudicial que as suas ações tiveram sobre outras. Então a culpa é saudável ou não? Podemos dizer que sim, não e ambos. Considera-se um fator saudável se a mesma motivar um comportamento mais consciencioso ou até mais solidário de si para os outros, vivendo de acordo com os seus valores éticos. Uma faceta pouco saudável prende-se com uma “culpa excessiva ou inapropriada” pode ser considerada um sintoma de depressão clínica, de acordo com o DSM-5 da APA. No presente caso esse sentimento de culpa pode ser associado a algo parecido com “stress pós-traumático”, que pode ser evidenciado através de uma reação psíquica de uma sensação de culpa constante (e.g. “eu não merecia a sorte que estou a ter” - “culpa do sobrevivente”). Associado a algum(ns) episódio(s) traumático(s) que tenha(m) ocorrido no passado, nomeadamente algo que tenha ocorrido na infância e que não tenha ficado resolvido, pode toldar o discernimento e levar a ações distorcidas do que era necessário para enfrentar a situação em mãos. Muitas pessoas experimentam sentimentos de culpa excessiva ou até mesmo irracional após passar por um evento traumático, tal como o presente, por terem uma nova oportunidade (a seu ver imerecida) enquanto outros, ao invés, sucumbem. Os pensamentos negativos que daí podem surgir são de múltiplas ordens: - Culpa por algo que possa ser causado por si (o que você pensa que fez) – Os pensamentos irracionais das consequências originadas pelos nossos atos funcionam, muitas vezes, como catalisadores de emoções tais como a culpa. É muito importante que verifique se realmente infetou as pessoas que pensa: você deve analisar meticulosamente os seus passos, quando os deu, onde eles foram dados e com quem interagiu. Só assim terá uma visão real do seu comportamento; - Culpa de que não merece a sorte que está a ter – Também denominada por “culpa do sobrevivente” (tal como referenciada acima) é associada muitas vezes a questões tais como a sobrevida em relação a familiares, amigos ou, neste caso em concreto, a população infetada, em que nos perguntamos, não raras vezes, porquê eles e não nós! Então como enfrentar essa sensação de culpa?
- Tente encontrar evidências – Faça uma lista de coisas positivas que já fez relativamente a essa situação e tenha-a à mão para lê-la sempre que for necessário; - Procure manter-se informado – Obtenha das outras (pessoas que realmente importem) opiniões acerca do seu comportamento. Informe-se, tanto quanto possível e nunca em demasia, com dados de fontes fidedignas e credíveis (não alimente o boato); - Ponha-se no lugar dos outros – Por vezes quando olhamos para as situações sob um prisma distinto, temos tendência a analisá-las de uma forma mais clara e objetiva: deixamos de ser tão exigentes connosco; - Existem várias tonalidades de cinzento (o mundo não é ou preto ou branco) – Não veja o seu comportamento como algo binário (ou o melhor ou o pior). Contextualize sempre as suas ações e vai ver que elas se encontram num tom de cinzento; - Encontre as emoções associadas – Muitas vezes o sentimento de culpa mais não é do que uma escapatória para emoções adormecidas (e.g. raiva, ressentimento, etc). Se descobrir qual ou quais as emoções que foi acumulando ao longo da sua vida e nunca lidou com elas, pode ajudá-lo na sua forma de enfrentar a sensação de culpa; - Decida o que está disposto a fazer para ajudar – Até que ponto está disposto a dar de si para auxiliar nesta situação específica. Comunique a sua decisão a quem de direito (como já foi referido acima, uma das decisões básicas será a de parar a corrente de transmissão). Seja altruísta. Se fizer sentido para si, ou se tiver possibilidade para tal, pratique voluntariado formal ou informalmente. Auxilie de um modo significativo e, ao mesmo tempo, viável para si; - Dê um tempo a si – Descanse de modo a que se recupere totalmente. Cuide de si, quer fisicamente, quer psicologicamente, quer espiritualmente, coma e durma bem e saudavelmente, pois só assim estará capaz de ajudar alguém; - O seu comportamento é normal – O ser humano é uma criatura social. Esse sentimento advém do facto de estabelecermos empatia com o nosso próximo; - Acima de tudo, não guarde para si o que possa estar a sentir - Converse com alguém da sua confiança, principalmente se o/a está a afetar na realização das tarefas diárias básicas, peça ajuda sempre que necessitar. Como já viu a sensação de culpa que cada um tem depende de muita coisa (temos de acatar os obstáculos que nos são colocados para os ultrapassarmos). No entanto, a forma como lidamos com as múltiplas adversidades que se nos deparam, é uma escolha nossa e podemos ou aceitar essa culpa como uma vivência real (que faz parte da nossa personalidade), ou, por outro lado, enfrentá-la de frente e dizer “eh culpa, tu não me defines”. Conte connosco para o ajudar neste processo, por isso convido-o a marcar uma consulta, estarei aqui para vos acompanhar neste processo.
10 Comments
Rui
19/4/2020 06:26:59 pm
Olá Dra. Anabela,
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28/4/2020 09:57:32 pm
Olá Rui,
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Betina
20/4/2020 07:50:38 am
Traz alento constatar que há quem escreva com cuidado e abrangência, neste momento de pesar, sobre as dores inerentes ao confronto com a doença.
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28/4/2020 10:04:28 pm
Querida Betina,
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21/4/2020 12:26:36 pm
Nós tentamos encontrar culpados, mas, ninguém é culpado por contrair o vírus ou por ser fonte de transmissão na população. Estamos perante um vírus "transparente" que por vezes os cuidados mais que eles sejam, não são suficientes. Razões elas podem ser, o material de protecção nao ser o adequado, não termos informação necessária, que por alguma razão não chegou a toda à população, ou ate, nao sabermos reter alguma conclusão da informação disponibilizada, entre outras. Nesta fase todo o cuidado é pouco. Somos uma preza em que o perigo está sempre à espreita. Temos de tomar todos os cuidados possíveis. Sempre!! Obrigada pelas palavras de conforto.
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28/4/2020 10:23:15 pm
Querida Juliana,
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Pedro Marques torres
21/4/2020 03:26:01 pm
Boa tarde, antes de mais grato pelas palavras, acredito que ajudar os outros é provavelmente a forma mais nobre de nos sentirmos humanos. Não estando neste momento a viver uma situação de doença relacionada com a Covid 19, estou efetivamente confinado em casa por uma questão de proteção própria e dos outros, e não deixo de sentir inclusive alguma impotência sobre todo o que está a acontecer ao meu redor, não sendo uma culpa efetiva revi-me em alguns conselhos enviados neste artigo que me ajudaram a aliviar alguma ansiedade.
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28/4/2020 10:30:01 pm
Olá Pedro,
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Pipa Abecasis
22/4/2020 10:02:52 am
Gostei muito deste artigo!
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28/4/2020 10:10:50 pm
Querida Pipa,
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