No meu jeito mais audaz de olhar a psicologia e as suas definições, e na temática que vamos abordar sobre a ansiedade, gostaria de começar por citar Kierkegaard que faz um magistral paralelismo para o facto da ansiedade ser “uma vertigem da liberdade". Ora, descodificando esta maravilhosa metáfora, o autor refere-se ao facto da liberdade implicar sempre a possibilidade de mudança. Esta possibilidade de mudança cria ansiedade, razão pela qual muitos de nós nos desresponsabilizamos da nossa própria vida. Uma pessoa sem liberdade não teria grande ansiedade, pelo facto de não ter a escolha de antecipar, de tudo ser, salvo seja, muito seguro, programado, espectável, rotineiro. No entanto, numa vida em que há liberdade, ou seja, em que existe possibilidades de escolher, de tomar decisões, de tomar partidos, de correr o risco de haver perdas nas nossas decisões, é uma vida em que não controlamos tudo, em que não sabemos o que antecipar (mas tentamos imenso), é uma vida que alberga, claro está, riscos inerentes a essa liberdade. É aqui que vive a ansiedade! Muitas pessoas vivem ansiosas. Preocupam-se desproporcionalmente e catastroficamente com o futuro, cometendo vários erros de pensamento por terem alguma dificuldade de raciocinar com base na realidade. Esquecem-se que o futuro é algo "virtual", ainda não aconteceu e quando acontecer poderá ser de uma forma que nunca foi pensada, calculada, imaginada, como tal, esse controlo antecipatório é ilusório. A ansiedade surge pelas interpretações dos eventos futuros tomarem grandes proporções, ruminarem na mente, exagerando os efeitos, enfatizando os aspectos negativos e ignorando os positivos. Estas pessoas têm dificuldades em tomar decisões, em solucionar problemas, em procurar e efectuar mudanças importantes de vida. Percebe-se assim que a ansiedade resulta de maneiras equivocadas e recorrentes de interpretar os pensamentos e as situações Geralmente, essas formas de interpretar o mundo foram aprendidas através das experiências vividas no decorrer do desenvolvimento individual, repetindo-se depois ao longo da vida, criando-se desta forma uma distorção cognitiva. As distorções cognitivas, compreendidas como erros sistemáticos na percepção e no processamento de informações são pilares basilares da ansiedade. Assim, é possível olhar a ansiedade como a preocupação viciante, a zona de conforto no mal estar percebido, como se apenas nos preocupando fosse possível solucionar um problema que temos pela frente. Não é assim? Quantas vezes se deparou com um problema, soube como o resolver mas ficou numa flutuação de pensamentos constante acerca do mesmo? Pensamentos intrusivos na mais inapropriada situação acerca desse problema que duraram horas, dias e até semanas. Isto acontece porque a ansiedade é essencialmente uma manifestação afetiva que parte por isso da nossa experiência vivida e a tentativa de controlar os acontecimentos baseado no que experienciámos anteriormente é altamente sedutor. A ansiedade vem do nosso interior, é uma reacção ao exterior mas parte de dentro, parte das emoções, parte dos afectos. Não ficamos muito ansiosos pela equipa de futebol que nada nos diz ir disputar um jogo imperdível mas sentimos horrores se se tratar das nossas cores, não perdemos muito tempo em pensamentos relativos a tragédias longínquas (infelizmente) mas se bater à porta do nosso país ou de um país vizinho, sentimos, agimos, falamos sobre o assunto, lamentamos e revoltamo-nos. Como podemos aliviar a nossa Ansiedade?Tenho sentido na prática clínica que as pessoas ansiosas têm essencialmente de agir. Pessoas propensas a estados ansiosos não podem ficar na dúvida ou hesitar, têm realmente de agir, dar o passo, tomar decisões. Tomar uma decisão, certa ou errada, alivia-nos imenso da ansiedade, a dúvida cai, os "e se..." deixam de ruminar na mente e sentimo-nos mais confiantes. Quando somos confiantes não temos espaço para a ansiedade. Vou dar um exemplo: Já reparou que aquilo que domina não o deixa ansioso? Se é uma pessoa ansiosa pode verificar que se sente assim quando está mais vulnerável ao descontrolo da situação ou, e na maior parte dos casos, quando interpreta as situações como não estando ao alcance do seu controlo. A insegurança emocional é a base da ansiedade. Olho para as emoções de forma séria e considero que muitas vezes existem zonas escuras emocionais, que é o mesmo que dizer que há emoções não adequadas e que não são compreendidas, e vamos vivendo com estas zonas escuras em nós. É sobre isto que recai (e de que maneira) a importância da Psicoterapia, um modo de podermos identificar essas zonas escuras das emoções para que possamos exprimi-las de forma adequada, dar nomes às coisas, trazer esqueletos ao de cima e colocá-los no seu devido lugar, tal como o é um luto nunca elaborado, uma crença de pertença mal interpretada, uma insegurança atroz implantada na infância e por aí fora. Quando não resolvemos o passado, não vemos o presente e não o vivemos (que é pior) e assim criamos, no presente e futuro, problemas emocionais, afectivos, comportamentais e psicológicos. Sabemos que a ansiedade tem influência no aparecimento de perturbações variadas, sendo as mais comuns a depressão, perturbações de ansiedade mais específicas, como a perturbação da ansiedade de separação e perturbação de pânico, baixa auto estima, problemas do foro sexual e até no alcoolismo. Estudos demonstram, por exemplo, que as crianças com perturbações de ansiedade não ultrapassadas, têm um risco maior de abusar do álcool quando adolescentes, como forma de reduzir ou aliviar sintomas desagradáveis de ansiedade. Muitas perturbações de ansiedade surgem durante a infância e se não forem tratadas continuarão agregadas à pessoa ao longo da sua vida. Alguns estudos afirmam que as perturbações de ansiedade são quadros clínicos com sintomas primários, isto é, não derivam directamente de outras condições psiquiátricas (depressão ou psicose). Solução mágica para a ansiedadeSinto cada vez mais que as pessoas procuram soluções mágicas para tudo. De facto, a época actual em que vivemos parece caminhar para que tudo esteja feito, um carro que anda sozinho, uma luz que se liga ao passarmos por um sensor de movimento, um telefone que fala connosco e nos responde a perguntas, oferece moradas e faz chamadas se o pedirmos, robots de cozinha que tratam de tudo, informação vinda de todos os cantos e feitios. Procura-se o fácil e é por isso que nos aborrecemos, igualmente, facilmente. Não existe nenhuma aplicação que nos tire a ansiedade, não existe nenhuma solução mágica para fazer desaparecer a ansiedade, e ainda bem, lembre-se que a ansiedade é um mecanismo interno de sobrevivência, não vamos, por favor, mexer no que está bem feito. O problema não está em ter ansiedade, o problema está em não a saber interpretar, avaliar, escolher o caminho dos nossos pensamentos. Uma forma, quase mágica se é que se pode chamar assim, de mudar o rumo do que nos coloca ansiosos, é levar uma vida com mais prazer. O prazer é um forte aliado na motivação, é por isso também muito importante na ansiedade. Estar motivado para atingir determinado objectivo é crucial no ultrapassar da ansiedade inerente ao processo. Considero essencial tomar consciência de que regras e valores dão "chão" à nossa postura diante da vida, isto é, tomarmos consciência de como agimos. Assim, torna-se crucial questionar e assumirmos como nossas as decisões que tomamos, responsabilizar-mo-nos pela nossa vida, tomar as rédeas da vida. Lembra-se que foi assim que este artigo começou? Ansiedade e PsicoterapiaAs consultas de psicoterapia no Learn2be são efectuadas ajustando sempre as técnicas a cada caso/pessoa. Embora existam padrões de comportamento humano, definições e paradigmas psicológicos, técnicas e escolas de Psicologia com visões próprias, cada pessoa é vista enquanto ser individual e único, e nas sessões iniciais trabalhamos a definição dos problemas dos pacientes/clientes, elaborando apenas depois a formulação do caso específico. Nessas sessões, o terapeuta ajudará o paciente a identificar: 1) crenças disfuncionais específicas associadas à ansiedade; 2) distorções cognitivas mais comuns e a caracterização dos pensamentos automáticos; 3) reacções emocionais, fisiológicas e comportamentais consequentes aos pensamentos automáticos; 4) comportamentos desenvolvidos para enfrentar as crenças disfuncionais; 5) perceber de que modo as experiências anteriores têm contribuído na manutenção das crenças. Quando o conhecimento sobre os factores que mantêm o comportamento mais ansiógeno está elaborado, focamo-nos em técnicas que auxiliem o paciente a lidar com os seus sintomas. Parece simples? Não é simples mas não há razão para tentar simplificar o que por natureza é complexo, tem apenas de ser efectuado porque é este processo de compreensão da origem das emoções, o dar nome às mesmas e colocá-las no seu lugar, que fará com que as aceitemos e possamos desembaraçarmo-nos delas, pois só quando as modificamos é que estamos a agir. É importante reforçar que a questão das crenças disfuncionais é de facto um pilar de sustento à ansiedade. Como exemplo dessas crenças podemos referir os complexos de inferioridade, a timidez, os sentimentos de incapacidade, o conformismo, o perfeccionismo e a fobia social. Pensar sobre a questão das crenças que trazemos não é fácil e o psicoterapeuta é o técnico especialista em trazer à tona essas crenças, pensar sobre elas, questioná-las e compreendê-las. Posto isto, torna-se essencial identificar a melhor forma de comunicar os pensamentos, mudar pensamentos inúteis para pensamentos úteis, promover um auto-diálogo positivo, além de exemplos sobre como identificar distorções e predisposições cognitivas comuns. Lembremo-nos que a ansiedade não é um bicho papão, é uma característica biológica de sobrevivência do ser humano, que antecede um perigo real ou imaginário. Reconhecer que se sofre de ansiedade e tomarmos uma atitude é estar a agir no ultrapassar da ansiedade, sem hesitações, sem espaços livres para a ansiedade. Se sente que a sua vida é prejudicada por questões de ansiedade, marque a sua consulta de Psicoterapia ainda hoje. Quem age, não se rende ao medo. Psicólogo Clínico e Life Coach do Learn2Be Algarve
5 Comments
António MMendes
15/2/2018 08:37:15 am
Excelente!
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João Lagarelhos
15/2/2018 09:21:01 am
Obrigado, António! Tudo de bom para si.
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Maria José Bastos
15/3/2018 11:47:31 pm
Revejo-me no que escreve. Viva!
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18/3/2018 09:02:07 pm
Fico feliz com o seu feedback Maria.
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Ana Catarina Silva
18/6/2018 08:25:38 pm
Obrigada pelo artigo dr. Está sem dúvida muito esclarecedor
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