Umas insistem em não largar, outras não sabem como o fazer. São crenças fortes, cristalizadas numa zona deprimida interna que não deixa as suas partes ligarem-se umas às outras, entrando o conflito psicológico grave. Crenças de que lhes acontecem coisas que não poderiam acontecer a mais ninguém. Crenças sérias de que são diferentes das outras pessoas, e são, mas neste caso de uma forma pessimista de que os outros são um pouco mais afortunados e que nunca escorregam na casca de banana ou que nenhuma gaivota jamais se lembraria de lhes carregar em cima. Caso da Ana É o caso da Ana. A Ana entrou no meu consultório com um olhar perdido e um estômago debilitado pelos anos em que foi sentido alguns murros metafóricos. A Ana é uma rapariga simpática, meiga e atenta, apresenta-se muitíssimo pesada mas em tudo o que faz é como se fosse muito leve, não vá ela partir alguma coisa ou pisar o chão com demasiada força e deslocar alguma tábua. É assim que justifica este seu cuidado extremo na vida em geral, uma vida muito metódica, inibida e contida.
Não reconhece potencialidades nem se atreve a ter aspirações. E eu partilho com ela que sinto que todas as suas potencialidades se encontram tapadas pelos seus medos e emoções desgovernadas. “Que medos são esses, Ana?” Procura-me por sofrer de ansiedade mas mais não sei. É meiga e contingente, simpática, com gosto por valorizar o outro. E é incansável nisso. Prefere falar da pessoa que me recomendou, do que disse de mim e de como eu a ajudei, do que falar de si própria. E não é fácil centrarmo-nos na Ana. “O que a fez procurar então este serviço?”, “Quais as suas expectativas para o que eu posso então ajudar, Ana?” Foge de si como qualquer gato foge ao som de uma buzina. “Agora a sério? Ana, quero mesmo falar de si. Porque tem tanto medo de falar e pensar em si?” A Ana desenvolveu a crença ao longo do seu processo evolutivo de que só a ela a vida passa ao lado.Não merece aventura e seria altamente perigoso tentar um hobby, um fim de semana, umas férias. Tem um pessimismo crónico como eu raramente assisti. Olha-se de forma debilitada e desistiu de se atrever a viver. Vai fazendo o que é suposto na forte castração mental em que vive. Quando recentrada em situações positivas, coisas boas que consiga recordar, justifica-as com uma pontualidade e excepção devidas ao acaso e provavelmente para prazer de alguém que estivesse nesse mesmo contexto, jamais em tempo algum para si, por si, devido a si. Sinto que a Ana aceitou o inaceitável como uma garantia e certeza absoluta. Não relaxa com medo do que possa acontecer se assim o fizer. Anda tensa e atenta todo o tempo que tem, vivendo numa ansiedade generalizada continuadamente. “A verdade é que tudo o que é mau, acontece a mim”, diz a Ana, certa de que o seu destino foi traçado e não há nada que possa fazer a não ser resignar-se a uma vida conhecida assim. Autoestima em crenças estimadas Os níveis de alinhamento da nossa autoestima são cruciais para a forma como nos vemos, como vemos os outros e como vemos o mundo. Toda uma vida pode ser trilhada em caminhos pessimistas, de copos meio vazios, de escassez e de carência, sem nunca nos responsabilizarmos por nada. Já sei, sim já sei que parece mais difícil, eu sei que sim mas, mesmo que não acredite, é mais fácil viver assim e acaba por dar algum gozo, aquele que chamamos em psicologia de gozo do sintoma. Para isso deixo uma palavra de ordem: |
A Ana e outros tantos de nós, ficam presos nas certezas de que a vida não tem espaço eles, sendo que o evitamento parece ser a melhor opção. Evitam sentirem-se perdidos pelo que não saem da norma, evitam sentirem-se rejeitados pelo que nunca convidam ninguém para sair, evitam o desconhecido vivendo no aborrecido conhecido diário, semanal, anual, de uma vida. |
A Ana depois das crenças
Conta-me que conheceu o príncipe encantado, palavras minhas obviamente, a Ana não mete as fichas todas na mesa, vai com calma e prudência. Mas agora, vai! |
Uma escrita simplesmente maravilhosa ilustre colega. Sucesso. Abraço Pedro Marques
Muito obrigado, Pedro. Que palavras tão lisonjeiras.
Muito grato! Um abraço enorme :)
Simplesmente maravilhoso 👏🏻👏🏻👏🏻
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