Natal, época de luz, de cor e de família. Época do amor e da pertença. Do sozinho em casa na televisão e da felicidade que o filme emana apesar haver uma criança que está sozinha e deveria estar triste, mas não está! O natal é tempo de ir à “terra”, visitar os que ficaram. É tempo de receber os que vêm. Mostrar que está tudo impecável e oferecer de coração aberto. Porque oferecer é também um sinalizar da pertença e dos laços que nos unem para além do consumismo exagerado ao longo dos tempos. Consumos à parte, no fundo, ninguém passa ao lado desta época. Esta é uma época de forte impacto social em todos nós. Apelos ao consumismo, reencontros sociais, tempo de orçamentação, paragens obrigatórias. Uma época em que parece que o mundo abranda. É, aliás, comum ouvir-se dizer “agora só depois do natal!”. O natal funciona como uma espécie de final para logo logo se iniciar qualquer coisa novamente. Assim, o natal funciona como uma espécie de oportunidade introspectiva do que foi o ano, do que tem sido as repetições do que já não nos serve mas que insistimos em manter. É um alerta para os projectos pessoais e mudanças a efetivar necessariamente.Contemplação natalícia
O frio e a escuridão associam-se a uma maior contenção mesmo ao nível emocional. Dias de luz e calor trazem uma maior produção de substâncias que favorecem o humor. Os neurotransmissores responsáveis pelo humor são assim, em dias de sol e calor, mais facilmente nivelados dando mais e melhor disposição para as interações sociais. No natal essas interações são muitas vezes obrigatórias e as condições climatéricas são inversas, favorecendo também a tristeza de não se estar a cumprir com o sentir que se devia. Assim, e vindo já de trás alguma insatisfação, agora com a alegria social exigida, entra o conflito interno entre as partes. Conflito entre o que é sentido pelas partes internas que vêm estando deprimidas e as partes sociais rígidas, mais sensatas e superegóicas, que obrigam a policiar o que é estar e ser e fazer e dar e ter. O natal é também uma época propícia à leitura da vida, debruçando-se à mortalidade e ao nascimento, relembrando os que já foram sem razão ou a falta que outros nos fazem nesta altura de reuniões. O ritual natalício tal como todos os rituais assinalam momentos, transições, términos, elaborações. A tristeza do que não devia ter sido
É neste olhar para as exigências que lhes são colocadas e não observar uma solução possível, que a pessoa pode também deprimir. Assuntos por acabar, lutos por elaborar e sentimentos de culpa, muitas vezes inconscientes, resultam em perturbações emocionais, mentais e físicas. O sentimento de culpa que é sentido por não ter estado à altura das normas e regras internas e externas resultam em angústia. E fugir da mesma pode parecer ser a solução. As pessoas sentem-se motivadas a experienciar as emoções que lhes tragam prazer e não terem emoções que lhes tragam dor. As interações são assim motivadas pela satisfação sentida. As acções são motivadas pela alegria que experimentamos quando alcançamos as metas e objectivos a que nos propusemos ou que nos são validados socialmente. Por outro lado, a vergonha, a culpa, a ansiedade e a solidão são sentidas quando as nossas relações falham, as nossas expectativas ficam desfraldadas, a nossa certeza é questionada e a nossa vida parece ter sido trocada algures no caminho até aqui. Desgraçada tristeza que no final é crucial e nos faz tão bem. Soluções anuais mas também natalícias
Assim, um aumento de consciência face ao stress social, ou seja, a comparação crónica e a vivência das expectativas dos outros afectam os processos cognitivos e emocionais, tendo assim consequências evidentes ao nível mental e físico. E no natal estas expectativas e comparações são muitas vezes experienciadas de uma forma facilitada e exacerbada pelas exigências sociais societárias. Pelos encontros familiares e suas discrepâncias. Pelo foco na escassez e nas carências. Pelos comportamentos de isolamento ou de segurança. Pela comparação de felicidade que de nada serve e no fundo nem é real. Que o natal sirva de encontro consigo, com os outros e com a vida. Que o natal sirva para perceber a tristeza que existe e transformar esse vazio no preenchimento correto para a sua melhor versão. Que o natal sirva de treino para sedimentar os laços, a pertença, a vinculação aos outros e a nós.
6 Comments
Marta Nunes
17/12/2019 10:37:42 am
Uma boa descrição, é pura realidade. Obrigada ;)
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João Lagarelhos
17/12/2019 02:21:25 pm
Obrigado pelo seu comentário, Marta.
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Andréia Sofia De Carvalho Guerreiro
23/12/2019 04:16:28 pm
Sempre grata também pelas suas sábias palavras, que nos tocam o coração. Grata
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João Pedro Lagarelhos
27/12/2019 12:18:02 pm
Muito obrigado, Andréia. Muito grato pelo carinho. Sempre aqui! Um fortíssimo abraço
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Alexandra Guerra
26/12/2019 10:19:07 pm
Excelente o seu texto. Muito obrigada. Ver de outros ângulos a mesma situação que se repete ano após ano. Obrigada por trazer sempre luz e tranquilidade.
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João Pedro Lagarelhos
27/12/2019 12:19:15 pm
Obrigado, Alexandra. Visões diferenciadas são sempre uma mais valia, uma forma de nos enriquecermos e crescermos. Grato pelas suas palavras.
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